Grato pela dor

“Alegrem-se sempre. Orem continuamente. Dêem graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus.” (1 Tessalonicenses 5.16-18)
Por muitas razões, este ano tem sido o mais doloroso de minha vida até agora. Recentemente, Deus graciosamente me deu um leve alívio, mas ainda dedico muito tempo pensando sobre tudo que aconteceu este ano e a maneira como Deus usou provações e tribulações para me remoldar e reformar.
Embora isto possa parecer loucura, finalmente cheguei a um ponto onde sou genuinamente grato por toda dor, dificuldade e perda que experimentei este ano. Embora eu e minha família tenhamos sofrido, relembro a maneira como Deus usou nosso desespero para nos fazer mais dependentes dele e sou profundamente grato. De fato, disse a um amigo outro dia que eu não trocaria um dia difícil e desesperador por todos os dólares do mundo. Sério!
Tenho descoberto que ser grato pela dor é um conceito difícil de engolir porque muitos de nós vivemos em um país que nos convenceu de que a procura da felicidade e do conforto é nosso “direito inalienável”. Portanto, quando nossos confortos, conveniências e proteções são ameaçados, nós gritamos “injustiça!”. Isto tem afetado profundamente nosso entendimento do que significa dar graças e o tipo de coisas pelas quais deveríamos ser gratos.
Eu gosto de ler biografias. E uma das coisas que descubro ao lê-las é que as maiores pessoas da histórias foram tão gratas pelas suas dores quanto elas eram gratas por seus prazeres. Eles davam graças por seus desesperos tanto quanto por seus livramentos; por seu luto tanto quanto por suas glórias.
Charles Spurgeon disse certa vez: “saúde é um dom de Deus, mas doença é um dom maior ainda”. Durante seu tempo neste mundo, Spurgeon sofreu de várias desordens físicas que, eventualmente, tomaram sua vida prematuramente. Ele esperava estar bem, mas reconhecia o supremo valor de estar doente, e agradecia a Deus por isto, porque era sua dor que o levava a desesperadamente aproximar-se de Deus.
Da mesma forma, David Brainerd era um jovem missionário junto aos índios americanos, que morreu de tuberculose em 1747, aos 29 anos. Próximo ao fim de seu sofrimento, ele estava no leito de morte tossindo sangue, ganhando e perdendo a consciência, dizendo em alta voz: “Oh! Como eu desejo mais santidade! Oh, mais de Deus em minha alma! Oh, esta dor agradável! Ela faz minha alma buscar diligentemente a Deus”.
Os puritanos costumavam dizer que esta vida era o ginásio e o vestiário para a vida porvir e, se o sofrimento aqui e agora os preparava melhor para o novo mundo, então ele era bem-vindo.
Estar grato apenas por nosso conforto é criar um ídolo nesta vida. “As aflições enviadas por Deus”, diz Maurice Roberts, “têm um efeito curativo sobre a alma” porque elas são a medicina usada para livrar a alma do egocentrismo e das futilidades deste mundo. Dor, em outras palavras, nos apura, nos amadurece e nos dá uma visão clara. A dor nos transforma como nada mais poderia fazer. Ela nos torna pessoas “sólidas”. Roberts continua: “aqueles que estiveram na fornalha perderam mais de suas impurezas”. Tudo isso deveria nos levar a ser profundamente gratos.
Dizem que a dor é a segunda melhor coisa que existe porque nos leva à Melhor (Deus). Pois, é somente quando chegamos ao fim de nós mesmos que chegamos ao princípio de Deus. E é somente quando chegamos ao princípio de Deus que chegamos ao princípio da vida.
O paradoxo do Cristianismo é que se você quer encontrar a vida, você deve perdê-la (Mateus 10.39). Na economia do mundo, a vida precede a morte. Na economia de Deus, a morte precede a vida – a cruz sempre precede a coroa. As boas notícias, entretanto – aquilo que deveria nos levar a ser supremamente gratos – é que quando perdemos nossos confortos terrenos, ganhamos outros celestiais.
Graças a Deus!

Nenhum comentário:

Postar um comentário